ABANDONADO NO PÚLPITO

Por David Abreu

ENCORAJAMENTO AOS PREGADORES CANSADOS

Esta foi a sensação que tive ao descer do púlpito no sermão do último domingo. Senti o gélido frio da solidão reservado aos arautos de Deus, acreditando por um instante ter sido abandonado na árdua tarefa de pregar a Palavra. “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”, foram as palavras que tive vontade de proferir após o último amém. Uma das sensações mais comuns a todos os pregadores sérios é a de que Deus os abandonou ainda no meio da mensagem. Alguém olha para o relógio, outro boceja do lado, outro levanta-se para ir ao banheiro, enquanto você se espreme entre gestos, palavras e pensamentos para manter a atenção do seu público.

Soma-se a isso a falta de resultado imediato à nossa vista. Esta sensação é comum a todos os que se afadigam na pregação. Inúmeras vezes subimos ao púlpito super confiantes em nossa preparação, e descemos com o sentimento de que fizemos um péssimo trabalho, sentimos que por uma hora estivemos malhando em ferro frio. Noutras ocasiões, não tão preparados assim, às vezes adoentados e abatidos por alguma circunstância particular, descemos do púlpito revigorados e animados com o que Deus fez na pregação por meio de miseráveis pecadores como nós. O Dr. Martyn Lloyd-Jones chama isso de o “romance da pregação”.

Pregar é uma obra incomum. Ninguém que conhece com seriedade o Evangelho enxerga o ato de pregar como algo banal, à mão de qualquer um. Antes, é a tarefa mais séria, mais pesada e mais crucial que um homem pode realizar neste lado da vida. É levantar-se e colocar-se entre Deus e os homens. Destinos eternos estão sendo viabilizados e confirmados naquele momento. Fazer isso de qualquer jeito é arriscar o próprio pescoço ante o trono do Altíssimo. O apóstolo Paulo disse que “esmurrava o próprio corpo e o reduzia à escravidão” para que tendo pregado a outros, não viesse ele mesmo a ser desqualificado (2Co 9.27). Tamanha é a responsabilidade que carregam aqueles que manejam bem a Palavra de Deus.

Enquanto dirigia a caminho de casa, senti meu coração aquecer com o seguinte pensamento: Deus não abandona os seus pregadores. Sim, Ele não faria isso. Não que Ele tenha obrigação com qualquer um deles, mas sim, por causa do compromisso que Ele tem com a sua própria Palavra. Ele mesmo disse que ela não voltaria para Ele vazia, ou seja, a Palavra não é enviada sem um propósito certo e eterno. Deus não brinca de falar com o seu povo. Sua mensagem é séria, é enviada com contundência e voltará próspera naquilo para o que ela foi designada. A Palavra fará com absoluta certeza o que apraz ao Senhor (Is 55.10,11). Em outro lugar Ele disse “...porque eu velo sobre a minha palavra para cumpri-la” (Jr 1.12).  É nisso que devemos descansar, no compromisso do Senhor com a Palavra dEle. Os resultados não são para nós, aliás nunca foram, é para Ele, tão somente para Ele. Na pregação Deus está agindo, chegando aos lugares mais escondidos do coração do seu povo e fazendo o que nós pregadores não podemos fazer. A um Ele está corrigindo, a outro exortando, naquele ensinando, no que senta lá atrás está consolando, no que senta na frente está encorajando. Aqui é o momento da fé do pregador na ação soberana e misteriosa de Deus. Mesmo nos dias nublados o sol permanece em sua potência máxima. Os resultados não são imediatos a nossa vista, mas já estão em pleno curso aos olhos do Senhor para Sua glória e alegria. “Portanto, não fiquem tristes", encorajo aos colegas pregadores, “porque a alegria do Senhor é a força de vocês” (Nm.8.10).

Soli Deo Gloria