A IDOLATRIA MODERNA

"És tu maior do que o nosso pai Abraão, que morreu? E também os profetas morreram. Quem te fazes tu ser? - Toda essa mentira deixa o entendimento das pessoas completamente distorcido, a ponto de transformarem os símbolos em ídolos" (João 8.53)

Por Rafael Gomes

Gostaria de me ater com um pouco mais de profundidade nesse verso 53. Há aqui o espírito de idolatria que pairava sobre os homens naquele tempo, mas que também se manifesta nos dias atuais. Eles argumentavam que, no judaísmo não há quem se possa comparar ao patriarca Abraão, ou aos profetas. Em outras palavras, eles questionavam Jesus, argumentando, em outras palavras que, “se eles, que foram quem foram, morreram, então quem é você pra dizer que nós nunca provaremos a morte?”.

Essa é uma prática muito comum entre aqueles que vivem enganados pela idolatria. O idólatra confunde os símbolos com o verdadeiro objeto de fé. Confundem submissão a rituais com submissão a Deus. Eles tropeçam na Palavra de Deus por acharem que serão capazes de oferecer justiça própria, através do seu serviço religioso. Nesse cenário, o Filho de Deus se torna um estorvo, uma pedra de tropeço, incômoda e indesejada, pois Ele vem mostrar que toda essa ideia está completamente equivocada.

O que está em jogo aqui é a vanglória dos homens, que rejeitam a fidelidade de Cristo por confiarem na sua própria capacidade de agradarem a Deus, por seus esforços. Eles são como aqueles que confiam na humanidade, e que acreditam que no final vai dar tudo certo, porque o homem achará o seu caminho de virtude por meios próprios.

Contextualizando a problemática...

Hoje em dia essa mesma expressão de idolatria se manifesta com um ar religioso “moderno”. “Não seja um religioso”, dizem os profetas da atualidade; “fuja da religiosidade”, dizem os expoentes da espiritualidade contemporânea. Eles são os mesmos que dizem que, para ser salvo, você não precisa ser um “crente bitolado”, não precisa “levar a Bíblia tão ao pé da letra”; dizem que você “não precisa viver dentro da igreja”, na verdade nem precisa de uma igreja. Tudo o que você deve fazer, e que agrada a Deus, é sinalizar as virtudes de um cristão, ou seja, andar de acordo com o padrão de justiça que é esperado pelos homens em relação a um cristão, hoje.

O nome que damos a isso é idolatria ou, vanglória. O homem se tornou o centro de todas as questões e para ele deve ser dirigido todos os nossos esforços de sermos um “cristãos melhores”. Melhores para quem? Para Jesus, o Senhor da Igreja? Não! Igreja nem é tão importante assim! Melhores para a sociedade, melhores para os próprios homens.

Sinalizamos virtudes para o mundo, mas esquecemos a busca por santidade. As questões ambientais e do famigerado racismo estrutural são discutidas com afinco pelos crentes, mas deixamos a pureza de lado. Afinal de contas, não podemos ser “religiosos”, mas “relevantes” para a sociedade. E ninguém é relevante dizendo o que Jesus andou dizendo por aí, não é verdade?! Se ousarmos afirmar o que a Palavra nos ensina que Jesus afirmou, ouviremos da sociedade o mesmo que o Mestre ouviu daqueles judeus: “Que te fazes tu ser?”; ou, em outras palavras, “Quem te deu autoridade para falar assim, ou quem você pensa que é?”.

Que o Senhor tenha misericórdia de Sua Igreja, dos crentes desse tempo. Que Ele nos dê sabedoria para remirmos o tempo e vivermos dignamente do Evangelho.


Trecho do sermão EXPOSIÇÕES EM JOÃO: AQUELE QUE É ANTES DE TODAS AS COISAS - JOÃO 8.48-59, pregado no dia 25/09/2022, à Igreja Batista Central em Campinho, RJ.