Por Jefferson Paiva
Quando, pois, Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito. João 19.30
A morte de Cristo na
cruz é um fato central para o cristianismo. Interessante perceber que da
palavra latina “cruz” surge “crucial”, isto é, central, importante.
A execução por morte
de cruz era algo terrivelmente cruel. Na verdade, era sadismo legalizado. Foi
provavelmente uma das formas mais depravadas de execução inventadas pelo homem.
Nada mais era que morte lenta por tortura. E realmente funcionava. Ninguém
jamais sobreviveu a uma crucificação. O caminho para a cruz foi um caminho de
sofrimento, vergonha, dor e rejeição.
Eu achei fascinante
como o evangelho de João capta esse brado de Jesus. Mateus, Marcos e Lucas,
chamados evangelhos sinópticos, devido a sua semelhança no que diz respeito ao
seu conteúdo teológico, apenas registram que Jesus deu um brado e entregou o
seu espírito na Cruz, mas João registra as palavras de Jesus ao Bradar: “TETÉLESTAI”
ou, “está consumado”!
Ao contrário do que
possa parecer, Jesus não disse baixinho, como que com vergonha do que passara, não!
Ele bradou em alta voz e isso não significava, de forma alguma, uma derrota,
muito pelo contrário, como um lutador de UFC, Jesus apanhou do início ao fim,
mas se manteve firme e ao soar do gongo pôde enfim bradar: Está consumado!
Terminou, eu venci! Aquele era um brado de vitória, mas não uma vitória
solitária, egoísta, era um sacrifício absolutamente altruísta, Jesus venceu por
nós e para nós, fez o que jamais poderíamos fazer.
Não se pode olhar para
a cruz e não se lembrar da graça de Deus, pois é exatamente na cruz que Deus,
através de seu filho expõe seu amor. A cruz, portanto, é uma lente de aumento
do misterioso amor de Deus, e sua maravilhosa graça. Impossível olharmos para
Cristo, crucificado, e não sermos remetidos à graça de Deus. O brado de Jesus é
praticamente uma chamada de Deus para voltarmos os nossos olhos para o autor e
consumador de nossa fé, pois nele encontraríamos salvação, compaixão, graça e
misericórdia.
Mas afinal o que é graça? Sabe o ar que nós respiramos
agora? Somente pela graça, pois nem eu nem você mereceríamos respirá-lo. Sabe a
vida que hoje podemos desfrutar mediante a salvação em Cristo Jesus? Somente
pela graça, pois nem eu nem você mereceríamos sequer viver. Romanos
3:23. “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”; Graça,
portanto é o favor imerecido que Deus concede ao homem ou o amor sem
merecimento. A graça pode ser contemplada por dois prismas, através da graça
comum e da graça salvadora, sendo que uma não anula a outra e sim complementa.
Definições de graça segundo David M. Levy [1]
Graça comum: A
graça comum se refere ao imerecido favor, amor e cuidado providencial de Deus,
estendidos a toda a raça humana em corrupção, pelos quais Deus derrama Suas
bênçãos sobre todos em geral, tanto sobre os salvos quanto sobre os descrentes
(Sl 145.8-9) “Piedoso e benigno é o Senhor, sofredor e de grande misericórdia. O
Senhor é bom para todos, e as suas misericórdias são sobre todas as suas obra”s.
Deus refreia Sua ira contra a humanidade pecadora, concedendo a uma nação ou a
uma pessoa o tempo necessário para que se arrependa.
Graça salvadora: A
graça de Deus é eficaz na medida em que produz salvação na vida dos indivíduos
eleitos que depositam sua fé na morte de Cristo e no sangue que Ele derramou na
cruz para remissão de seus pecados. A graça eficaz é conhecida por experiência
no momento em que Deus, pela instrumentalidade do Espírito Santo, opera de
forma irresistível na mente e no coração de uma pessoa, de modo que o indivíduo
escolha livremente crer em Jesus Cristo como seu Salvador.
Tudo se torna muito vago, quando trazemos à tona
conceitos e definições, mas o que gostaria de esclarecer é que o tema crucial
na cruz é graça. E porque é importante que saibamos disso? Porque a graça de
Deus nos nivela, não há quem Deus ame mais ou ame menos, ele morreu por todos,
não há pecado maior que outro, uma pequena e a princípio inofensiva
“mentirinha” que eu conto a graça me revela que pra Deus tem tanto valor quanto
os crimes de um homicida ou de um pedófilo, que julgamos como pecados
abomináveis, cruéis. Para Deus possuem o mesmo valor, pois custou o mesmo
preço, o precioso sangue de Jesus Cristo. A graça de Deus revelada na cruz do
calvário me mostra um Deus extremamente amoroso, compassivo e acima de tudo
pessoal, pois veio ao nosso encontro, rasgando o véu que separava e já não
separa mais, pois Jesus transformou um instrumento de rejeição, como palco para
a maior demonstração do amor, do poder e da glória de Deus que o mundo poderia
assistir, portanto, SIM, ESTÁ CONSUMADO, ninguém tira mais, a fé salvadora que
hoje podemos contemplar, a paz que hoje podemos gozar, foi devido ao castigo
que estava sobre ele. Paz tal, que apesar de ser paz, nos tira de um lugar de
conforto e conformidade com este mundo, pois é uma paz que é dada a todo aquele
que no filho crê, pela fé, mediante a graça.
Agora, pensando sobre Lucas 24.1-5, Cristo vive e reina soberanamente. Vida plena só podemos ter em Cristo, fora dele apenas existimos. O favor vindo
da parte de Deus que nós não merecemos, expressa uma espécie de convite, Deus é
gracioso conosco nos dando aquilo que é supérfluo e passageiro, como emprego,
roupas, e outras coisas que julgamos essenciais, mas é na cruz que Ele mostra o
que verdadeiramente importa.
“E
disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza.
De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite
o poder de Cristo”. 2 Coríntios 12:9
“Mas o
que se gloriar, glorie-se nisto: em me entender e me conhecer, que eu sou o
Senhor, que faço beneficência, juízo e justiça na terra; porque destas coisas
me agrado, diz o Senhor”. Jeremias 9:24
E por fim...
“Mas
longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo,
pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo”. Gálatas 6:14
[1] O autor foi citado como exemplo de definição, no entanto, não expressa (necessariamente) de maneira plena a confissão teológica presente deste blog. Digo "presente" pois como já citado por alguém, em algum lugar, "teologia é escrita a lápis", mas a palavra deve ser permanente e soberana.