ROMANOS 1 - A FÉ EM CRISTO, A CONSOLAÇÃO E O PODER DO EVANGELHO

Por Pr. Rafael Gomes

Esse texto é oriundo da pregação realizada em 22/03/2020, à IBC Campinho, dando início à série de mensagens expositivas na epístola aos Romanos.

TEXTO BASE: Romanos 1.8-16


INTRODUÇÃO À EPÍSTOLA

A carta aos Romanos foi escrita, possivelmente, no ano 56 D.C., quando Paulo encontrava-se em Corinto.
A igreja de Roma não foi fundada por ele, no entanto, era muito conhecida pelo apóstolo, pelo que lemos no verso 8, e também nas saudações finais do capítulo 16.
Paulo escreve aos romanos como uma forma de apresentar-se a uma igreja com a qual ainda não havia estado presencialmente, porém, tinha planos de visita-la em breve (v.10) e por esse motivo, a epístola traz uma demonstração clara e bem construída da doutrina que ele, como apóstolo, ensinava. É bem possível que devido ao seu profundo desejo de ministrar o evangelho à Espanha, o apóstolo tenha apresentado esta epístola com a finalidade de conquistar o apoio da igreja de Roma, a fim de que aquela igreja estivesse com ele nessa ação missionária naquele país (Romanos 15.24, 28).
Nessa carta não vemos exortações ou questões comportamentais, como em I e II Coríntios, tendo em vista o fato dele nunca ter visitado a igreja de Roma.
O tema central da epístola é que Deus é Justo e que o Seu justo viverá pela fé (v.17).

INTRODUÇÃO À MENSAGEM

Depois dessa breve introdução sobre essa maravilhosa epístola, quero me ater com vocês a um tema importante, tratado já no início desta carta: a consolação que encontramos na fé, posta em Cristo Jesus.
Aproveitando a atual situação na qual nos encontramos, todos em quarentena, limitados na nossa comunhão por causa de um vírus que tem se propagado assombrosamente, me coloquei a pensar sobre a maneira como Paulo expressa o seu desejo de estar com aquela igreja, e como ele anseia por dividir com aqueles irmãos as bênçãos espirituais que somente pela fé em Cristo podemos vivenciar.
Por isso eu quero refletir contigo nesse momento acerca dessa consolação que encontramos na operação do Espírito Santo no meio da Igreja do Senhor. Esse mistério que lemos em Colossenses 1.26,27, já esteve oculto, mas foi revelado por Cristo, quando Ele nos deixou o Consolador, que é o próprio Deus habitando nos corações daqueles que creem no Seu Único Filho!
Para isso, vamos começar analisando os versículos que nós lemos, e pedindo a Deus que ministre profundamente em nós as sagradas Escrituras.

Primeiramente, dou graças a Deus por Jesus Cristo, acerca de vós (v.8) - Vemos aqui o apóstolo Paulo glorificando a Deus, pela obra de Jesus operada nos crentes de Roma. Isso nos ensina a necessidade de agradecermos a Deus pela obra de Jesus, já realizada, e ainda se realizando, em nós, em nossos irmãos e em todos aqueles que hão de crer no Seu nome e poder. Como é precioso lembrarmos da operação do Espírito na Sua Igreja, como ao longo dos séculos o Senhor vem preparando e trabalhando em Seu povo para expressão da Sua glória.

Na EBD de hoje nós aprendemos que Deus é ainda mais glorificado quando temos prazer nEle, e nas coisas que Ele criou. Vejo muitos cristãos (se é que podemos chamá-los de cristãos) hoje em dia dizendo que não querem saber de igreja. Que estão cansados da igreja. Que não precisam da igreja para coisa alguma. Como isso é lamentável irmãos. Dizer isso é desdenhar da obra do Cristo, e desfazer-se daquilo que custou o sangue de Jesus na cruz do calvário.

Pedindo sempre...boa ocasião de ir ter convosco (v.9,10) - É claro que esse entendimento positivo a respeito da igreja de Cristo, (e da obra que Cristo operou em favor dela) só pode nascer numa mente renovada por Ele mesmo (Romanos 12.2), fruto de uma vivificação espiritual, onde os dons, o fruto do Espírito e as coisas elevadas, aquelas que são do alto, têm preponderância sobre as da carne (Por que Deus, a quem sirvo em meu espírito - v.9); e não de uma vivência carnal.

O problema que enfrentamos hoje é que muitos querem usufruir da realidade da igreja, a partir de premissas que são carnais. Querem encontrar prazeres libidinosos num ambiente que deve ser primordialmente espiritual. Por isso temos pessoas participando da comunhão dos santos para ouvirem boas músicas, ou atrás de um namorado ou namorada, ou ainda, buscando destaque pessoal, etc. É um entendimento equivocado e lascivo.

Por que desejo ver-vos, para vos comunicar algum dom espiritual (v.11) - E chegamos aqui, no propósito da visita de Paulo. Vemos nesse verso o motivo pelo qual Paulo orava incessantemente: o desejo de compartilhar das riquezas espirituais com aquela igreja, de maneira que fossem confortados.

É muito inusitado em nossa realidade contemporânea lermos essas palavras do apóstolo. Possivelmente muitos pensariam nos dias de hoje: "mas é por isso que ele orava incessantemente?"; com certo desdenho e/ou pensamento jocoso. Mas vemos aqui a importância que esse homem de Deus dava aos dons recebidos pelo Espírito Santo, e como ele ansiava por operá-los para a edificação do corpo de Cristo (Efésios 4.12). Esse deve ser o mesmo pensamento a permear nossas mentes e corações nesses dias, e não a ênfase em nossas realizações pessoais, como muitos ainda insistem em reproduzir.

...Para que juntamente convosco eu seja consolado (v.12) - Ou seja, Paulo queria compartilhar dos dons do Espírito sabendo que isso traria consolo e vigor para a igreja.
A Bíblia nos diz que os dons são para aperfeiçoamento e edificação do corpo (Efésios 4.12), e através deles somos consolados pois sabemos que onde há manifestação dos dons, há presença do Espírito Santo. E isso já deve nos consolar, pois o Espírito Santo é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da Sua Glória (Efésios 1.14).

Quantas pessoas têm guardado os seus dons, enterrados na terra, e compartilhado carnalidade, compartilhado o que não convém com os demais. Não fomos chamados para isso queridos, somos chamados de filhos da consolação, pois assim como somos consolados no Espírito, precisamos consolar-nos uns aos outros em amor, e apresentar esse consolo ao mundo. Somente em Cristo podemos experimentar esse acesso às coisas celestiais que nos enchem desse vigor espiritual nesse viver.

...Estou pronto para também vos anunciar o evangelho (v.13,14 e 15) - No verso 13, Paulo fala sobre "ter entre vós algum fruto", dando a entender que desejava ver novos frutos gerados pelo evangelho entre os romanos, como também entre os demais gentios. E no verso 15 ele deixa clara a principal finalidade de sua ida à Roma: "anunciar o evangelho, a vós que estais em Roma".

Estejam certo de uma coisa: se há algo nesse mundo capaz de gerar verdadeiro conforto e consolo, esse algo é necessariamente o evangelho. É por isso que Paulo chega até esse ponto dizendo àquela igreja que, a origem de toda a consolação pela fé mútua (v.12) está no evangelho de Cristo Jesus. E aí você pode pensar: mas pastor, se ele está escrevendo para uma igreja, por que ele está preocupado em pregar o evangelho para os salvos?
Justamente por que a nossa pregação deve ser, e somente ser, o evangelho, e nada mais!

Qualquer outra adição e/ou subtração que se faça à mensagem do evangelho somente serve para gerar outra mensagem, diferente do evangelho de Jesus Cristo. Os púlpitos estão cheios delas, e isso pode ser provado de maneira simples e objetiva: infelizmente hoje, dificilmente se ouve acerca da condenação que há no pecado, sobre a segunda vinda de Cristo, sobre a necessidade de tomarmos nossa cruz a cada dia, sobre desenvolvermos uma vida de santidade, etc. Tem-se mensagens adulteradas para todos os gostos, sejam as que têm pontos importantes subtraídos (como a realidade do inferno, por exemplo), sejam aquelas onde pontos são adicionados (como uma vida onde só há vitória), ou sejam outras, que diluem a mensagem bíblica para "torná-la agradável ao homem" (muitas com pretexto de "contextualizar"), e aí você já não pode denunciar o pecado com tanta veemência, ou dizer que certas posturas são frontalmente condenáveis diante das Escrituras. 

Por que não me envergonho do evangelho (v.16) - Algo que me entristece demais nesses dias é ver a substituição do verdadeiro evangelho por uma mistura pobre de autoajuda com milagrices. Sabe o que é autoajuda? É a constante necessidade de dizer para uma pessoa que ela é boa, é bonita e é especial. Sabe o que é milagrice? É produzir uma atmosfera que parece espiritual, mas que no fundo é carnal. É a síndrome de Nadabe e Abiú: querem reproduzir a glória de Deus à sua maneira.

Não é necessário nada disso. Pregue o evangelho, tão somente o evangelho e nada mais. Não há maior consolação do que esta: saber que eu sou um pecador inveterado, mas que há um amor capaz de cobrir a imensidão dos meus erros. Saber que embora eu estivesse destinado à justa ira de Deus contra mim, pecador, agora eu estou destinado à Sua habitação por toda a eternidade, e que isso não foi conquistado por mim, mas por Jesus! Isso é evangelho! Isso consola, isso ergue o abatido, isso alegra os que estão tristes, liberta os cativos, gera consolação verdadeira e prazer na presença soberana do Deus Vivo!

Não precisamos nos envergonhar do evangelho, pois de fato ele é o poder para salvação de todo aquele que crê! Aleluia!

Deus abençoe a sua vida!