EVANGELIZAÇÃO DISCIPULADORA



Por Pr. Rafael Gomes
Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em[146] nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos. Mateus 28.19,20
É interessante olharmos para o crescimento dos evangélicos ao redor do mundo, e principalmente, no Brasil, onde vivemos. Aqui o crescimento vem se desenvolvendo de maneira bem expressiva, e de acordo com o senso de 2010, promovido pelo IBGE, somamos mais de 42 milhões de evangélicos distribuídos em diversas denominações. [1]
Mas esse crescimento pouco tem influenciado nossa nação, e isso é um ponto que merece a nossa total atenção. O professor e pastor Alexandre Gonçalves diz que “crescemos em número, espaço e mídia; mas não crescemos na largura e no comprimento da vida cristã. Muitos cristãos estão aflitos e exaustos, não por culpa exclusiva do diabo, mas porque na verdade, nunca foram discipulados!”. [2]


A EVANGELIZAÇÃO DEVE SE PREOCUPAR COM A GERAÇÃO DE DISCÍPULOS, E NÃO COM A MULTIPLICAÇÃO DE CRENTES
Mais importante do que multiplicarmos novos crentes, apenas crescendo em números, é gerarmos discípulos que vivam para a glória de Deus. Ou seja, aquilo que antes manifestávamos por causa do pecado herdado do primeiro Adão, agora podemos vencer por meio da fé no Filho de Deus, e assim manifestarmos frutos que glorifiquem ao Pai, em Cristo Jesus (1Co. 15.45). Mas para que isso aconteça é necessário que avancemos além da evangelização pura e simples. Temos que caminhar juntos, gerar verdadeiros “filhos” espirituais, discípulos de Cristo.
O problema que encontramos hoje é que o foco das igrejas locais está na expansão do evangelho somente, quando lemos claramente no texto bíblico que além da expansão existe a missão de edificação, ou seja, o ensino sólido da palavra, o discipulado dos cristãos por meio de uma base forte, pautado nas escrituras.
Se hoje não vemos em nosso País a plena manifestação de um povo que se chama pelo nome do Senhor, é porque temos pelo menos duas razões: a primeira é explicada pelo crescimento do joio em meio ao trigo (Mt. 13.24-30); pessoas que dizem “Senhor! Senhor!” mas que nos seus corações ainda não experimentaram a verdadeira conversão. Essa é a primeira razão. A segunda é porque temos crentes fracos, crianças na fé que insistem em alimentar-se de leite, ao invés de alimento sólido. Mas isso, muitas vezes ocorre porque não incentivamos a busca pelo alimento mais sólido, mais consistente para o desenvolvimento da vida cristã (1Co. 3.1-3; Hb. 5.11-14).
É impressionante ler o que o autor de Hebreus diz para aqueles cristãos. Seguindo a traducão da NVI, as palavras que encontramos são “vocês se tornaram lentos para aprender” (v.11), ou ainda, "Mas o alimento sólido é para os adultos, os quais, pelo exercício constante, tornaram-se aptos para discernir tanto o bem quanto o mal” (V.14). O verso 14 nos evidencia o fato de que discipular e ser discipulado é um exercício constante, não tem um fim previsto. É para toda a vida do crente. Nisso, vemos como a falta de atenção ao discipulado gera cristãos fracos na caminhada, muitas vezes incapazes de responder ao mundo de forma relevante. 
A EVANGELIZAÇÃO DISCIPULADORA
O que conseguimos aprender até aqui é que a evangelização é uma ferramenta essencial para alcançarmos o objetivo da igreja, que é glorificar a Deus. É através do evangelismo, em suas mais diversas ramificações, que pessoas conhecem o evangelho e são alcançadas pelo Espírito Santo através da obra de redenção. Mas apenas evangelizar não é o suficiente, e olhando para quadro atual da igreja, no que tange ao testemunho de vida e transformação da sociedade, isso fica mais do que claro. 
A evangelização não pode ser o fim, mas o meio para alcançarmos cristãos maduros. Tudo começa na explanação do evangelho, e deve passar pela maturação da palavra de Deus nos corações dos crentes. Essa maturação é adquirida através de um processo, que começa na conversão e se estende até o último dia de vida, através do discipulado.
Dessa forma, fica fácil compreendermos que a evangelização discipuladora é um compromisso para toda a vida. E durante esse processo de discipulado todos nós seremos discípulos e discipuladores. Alguns momentos seremos discipulados, em outros, teremos de discipular, caminhando junto, ministrando sobre a vida dos outros, exercendo o ministério que Cristo reservou a cada um dos crentes. Tudo isso visando o aperfeiçoamento do corpo de Cristo (Ef. 4.12-14). 
CONCLUSÃO 
Por fim, é importante destacar que o discipulado envolve vida, aprendizado, convivência, e proximidade. Não é possível que a igreja avance sem conhecer e manifestar essas qualidades entre os seus membros, pois somos membros uns dos outros (Ef 4.25). Logo, o segredo do discipulado é a entrega, em amor, de cada crente ao serviço do Reino.
Quando entendemos o propósito da nossa vida (que é a glorificação de Deus), compreendemos que devemos nos doar para esta obra maravilhosa.
O que tem impedido a igreja de viver o verdadeiro discipulado é a “falta” do tempo para se dedicar neste processo. Na verdade, essa “falta” ocorre porque ainda não entendemos, talvez, a importância dessa obra para a vida da igreja, bem como para o impacto que se pretende causar na sociedade em que vivemos.
Enquanto muitos apenas quiserem servir-se dos outros, viveremos uma crise existencial, em que veremos o aumento em número (mais de 42 milhões), mas não em qualidade. Teremos multidões que professam a Cristo, mas vivendo como ovelhas sem pastor (Mt. 9.36).
Não é assim que desejamos ser igreja, mas antes, queremos a relevância do povo de Deus no meio de um mundo em trevas (Mt. 5.13,14), mas para isso precisamos avançar, aplicando vida na vida, discipulando e sendo discipulados, aprendendo e ensinando a guardar tudo o que Ele nos ensinou (Mt. 28.20).
Deus abençoe a sua vida, e nos ajude a alcançarmos um caminho de verdadeiro discipulado para a honra e glória do Seu nome! Amem!
Notas:
[1] - Pesquisa do IBGE, realizada em 2010, apontou um total de 42.275.440 de cristãos evangélicos em todo o território nacional. Fonte: ftp://ftp.ibge.gov.br/Censos/Censo_Demografico_2010/Caracteristicas_Gerais_Religiao_Deficiencia/tab1_4.pdf
[2] - Livro A Bíblia e o Discipulado Cristão, 2011, SMRIO - Gráfica e Editora, Pr. Alexandre Gonçalves dos Santos.